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Foto de: Atlas Mundial |
Introdução:
A narrativa do Êxodo que chamamos de escravidão no Egito, embora o termo seja questionado por alguns autores que refutam não haver uma escravidão no sentido literário conhecido em nossos dias, vai nos apresentar conforme descrita em Êxodo capítulos 1-15 e 21, um marco fundamental na história bíblica, refletindo não apenas a intervenção divina, mas também aspectos sociopolíticos e econômicos da época. O presenta trabalho busca analisar essa passagem destacando três fatores, o contexto histórico e social; a resiliência de um povo que busca a libertação; a saída do Egito – libertação da “escravidão.” Esses fatores descrevem como se deu a opressão e a subsequente libertação do povo de Israel.
Contexto histórico e social
Quando nos debruçamos na leitura do Livro do Êxodo vemos que, o texto inicia com a narrativa da entrada dos filhos de Jacó e suas famílias no Egito; os nomes dos filhos de Jacó são: "Ruben, Simeão, Levi, Judá, Issacar, Zabulon, Dã, Neftali, Gad e Aser. José já estava no Egito e tinha filhos; no entanto, os que desceram de Canaã para o Egito eram em torno de setenta pessoas" (Mazzarolo, 2024, p. 23; López, 2024, p. 127). Os nomes desses filhos de Jacó deram origem às tribos nos assentamentos; José efetuava e orquestrava esses assentamentos por meio de invasões com seu exército.
Entretanto, vai entendendo-se que os filhos de Jacó os que mais tarde se tornam filhos de Israel, vão se instalando e construindo suas vidas e de suas famílias, no entanto com o passar do tempo, isso começa a mudar; essa mudança se dá mais especificamente por conta da morte de José. A esse sentido López (2024) ressalta que a morte de José e seus irmãos, e de toda a geração que desceu ao Egito com Jacó marca de certa forma o início de um novo período na história de Israel. Essa mudança é significativa e decisiva pois da família de Jacó se passa ao povo de Israel.
Quando José morre e também o Faraó que era amigo de José, com o passar dos anos vai nascendo outras mentalidades e outros conceitos de acolhida de estrangeiros. Quando os filhos de Jacó foram acolhidos pelos egípcios eles eram um número pequeno, com o tempo foram crescendo e se tornaram um grupo numeroso, isso passou a gerar um desconforto e preocupação para as autoridades e o Faraó. Como assevera Mazzarolo (2024, p. 24):
O regimento dos Faraós sucessores foi alicerçado no projeto de José e, a partir da política por ele implantada na compra das terras em troca de alimentos, o Estado passou a ser dono e a exigir tributos como forma de locação com parte das colheitas.
Os Faraós não conheciam José e seus familiares; Eles estavam preocupados com o crescimento dos estrangeiros em seu território, mas que não comungavam com os mesmos princípios religiosos e sociais.
Mazzarolo (2024, p. 25) assegura ainda que duas eram as vertentes de preocupação das autoridades do Egito; “a) Os hebreus cresciam, de fato, em quantidade; b) Os hebreus não se integravam como cidadãos egípcios, pois tinham costumes, religião, ética e outras formas de vivência segregada do país que habitavam.” Para manter um controle sobre os hebreus foram tomadas algumas medidas, como por exemplo a submissão ao trabalho análogo a escravidão, o controle da natalidade e da proliferação. Nesse sentido os meninos deveriam ser mortos, as meninas deveriam gerar filhos com os homens do Egito, assim os descendentes não seriam mais hebreus e sim egípcios.
A regra do Faraó era bem clara, ainda que cruel e homicida, como são na maioria das vezes as decisões dos líderes perversos e sádicos na história da humanidade e ainda em nossos dias, por mais difícil que seja a aceitação de tais fatos. Tais crimes empobrece e desumaniza a natureza humana. A narrativa que vemos neste livro nos leva a percepção que além da escravidão e trabalhos forçados, através dos quais muitos trabalhadores e trabalhadoras morriam, era feito o controle da natalidade, especificamente para evitar a proliferação dos estrangeiros.
Eliminando os hebreus e deixando as meninas, elas só teriam a possibilidade de casar e gerar filhos com homens egípcios. Isso facilitaria a miscigenação da raça e os hebreus, neste caso, já iriam diminuindo como raça e acabariam sendo absorvidos pela cultura, costumes e religiosidades dos egípcios (Mazzarolo, 2024, p. 27).
No que se pode notar, havia uma forte opressão e controle sobre o crescimento populacional dos estrangeiros com maior destaque para os hebreus, mas o povo hebreu mesmo diante de tal realidade vai mostrar um espirito resiliente frente a opressão que sofriam por parte dos egípcios.
A resiliência de um povo que busca a libertação
Podemos nos questionar de onde nasce a opressão; podemos perceber essa resposta quando olhamos para a astúcia dos poderosos que usam recursos para abafar possíveis revoltas; esses recursos giram em torno de todo mecanismos que eles têm para fazer com que o oprimido não tenha possibilidade de chegar à consciência da sua situação e a organizar-se na articulação e reivindicações de seus direitos (Storniolo; Balancin 1990). Agindo dessa forma os poderosos tem consciência de suas atitudes e onde pretendem chegar, e os oprimidos ficam impossibilitados de qualquer reação.
Não meramente por princípios humanos, mas sobretudo pela ação Divina, a resistência do povo hebreu se dar a começar na atitude das pateiras Sefra e Fua, que deixam de seguir a ordem do Faraó de ao fizer o parto das mulheres hebreias, sendo menino deveriam matar, sendo menina deixariam viver. Como narrado em Êxodo 1,15-16, “O rei do Egito disse às parteiras dos hebreus, das quais uma se chamava Sefra e a outra Fua: quando ajudares as hebreias a darem à luz, observai as duas pedras. Se for menino matai-o. Se for menina deixai-a viver.” A atitude das pateiras em não seguir a ordem do Faraó é movida por seu temor a Deus que “favoreceu essas parteiras; e o povo tornou-se muito numerosos e muito poderoso” (Ex 1,20).
A esse sentido (Storniolo; Balancin 1990, p. 22) asseveram que esse temor a Deus é “que as leva a perceber que o Deus da vida é mais importante do que o Faraó que ordena a morte. A desobediência delas é uma crítica velada à onipotência que o Faraó atribui a si próprio.”
Um outro aspecto que tem sua interferência direta na história do povo de Israel, principalmente mais tarde na libertação desse povo é o nascimento de Moisés que se dá dentro desse contexto de controle da natalidade com a morte de meninos recém-nascidos. A esse sentido Fonsatti (2020, p. 49) Ressalta que:
Após descrever brevemente a situação humilhante dos Israelitas, o livro começa a narrar a história do libertador, Moisés. Nascido na tribo de Levi, o pequeno Moisés é mantido escondido por sua mãe três meses. Não podendo mais escondê-lo, sua mãe colocou-o em um cesto de junco que foi deixado no rio Nilo. Moisés foi salvo das águas pela filha do próprio faraó que o adotou como seu filho. Porém, Moisés foi alimentado por sua própria mãe.
Moisés cresceu e foi educado na corte do faraó, ali conheceu a verdadeira origem dos egípcios, até cometer o assassinato de um egípcio que estava maltratando um israelita. Vendo que o fato do assassinato cometido por ele estava preste a ser descoberto por todos, e não tendo sua liderança aceita pelos seus irmãos de raça, vendo sua segurança comprometida resolve fugir para a região de Madian onde conheceu Jetro um sacerdote (Fonsatti 2020). Moisés permaneceu naquela região no trabalho de apascentar o rebanho de Jetro; tempos mais tarde casou-se com uma das filhas chamada Séfora, com ela teve um filho chamado Gérson, viveu por quarenta anos percorrendo aquela região em busca de pastagens.
A saída do Egito – libertação da “escravidão”
Como mencionado acima, o nascimento de Moisés e sua influência de sobrevivência diretamente no plano da libertação do Egito; depois de muito tempo vivendo em Madian percorrendo a região em busca de pastagens para os rebanhos, Moisés vai retornar ao Egito. A esse sentido López (2024, p. 132) ressalta que:
Investido da autoridade e vencendo todas as dificuldades para aceitar a missão confiada por Javé, Moisés retorna ao Egito. A pergunta de 2,14 e o medo do Faraó (2,15) já teve resposta na série de diálogos entre Deus e Moisés (3,14-17). O que agora procede é percorrer o caminho e encrostar-se com os israelitas e com o Faraó para obter a libertação dos hebreus, objetivo primário de sua vocação-missão.
Nesse caminho rumo ao encontro com os israelitas Moisés supera alguns incidentes (Ex 4,19-26), Moisés chega ao Egito e se encontra com seu irmão Aarão (vv. 27-28) e também com os antigos de Israel e o povo que agora os aceita de bom grado como plano de Deus (López 2024).
No capítulo 5 do Livro do Êxodo, de volta à terra do Egito Moisés vai até o Faraó e se apresenta junto com seu irmão Aarão, eles estão em posição de mensageiros de Javé. Suas falas são em tom profético, “Assim fala o Senhor [Javé], o 'Deus de Israel: Deixa ir o meu povo'...” (Ex 5,1). O Faraó interroga-os: quem é esse Senhor Javé? Não conheço o Senhor Javé e não deixarei de Israel (Ex 5,2). No início do Livro o desconhecimento de José levou o Faraó a tomar medidas pesadas contra os israelitas, agora o desconhecimento de Javé acarretará em um sofrimento da opressão.
Moisés chega no Egito e seu primeiro contato com o Faraó é de insucesso, ele desconhece a Javé, daí em diante vamos acompanhar toda a tentativa de libertação do povo de Israel, entra em cena o cenário das dez protestos até que de fato venha a libertação. A esse respeito López (2024, p. 137) assegura que:
A saída do Egito coloca um ponto final em um longo período de escravidão sob o domínio do Faraó. As diversas tentativas fracassadas nas negociações encaminhadas para uma saída importação desembocaram num último golpe de força, por parte de Javé, que derrotou Faraó e seus agentes, dando vitória aos israelitas.
Os preparativos para a Páscoa retratam o raro momento em que a sobrevivência de uma instituição não transcorre de uma história é tão vasta como também complexa. A páscoa cristã tem um parente com a judaica que, por sua vez, tem suas raízes no selo comum das festas pagas.
A época da Páscoa, na sua origem, uma festa típica das culturas nômades e seminômades, em especial das tribos de pastores especiais para o pastoreio. O ritual da páscoa, tal como aparece no texto Ex 12, conserva muitos aspectos das culturas e das celebrações pastorais. A páscoa era celebrada em família, ao cair da tarde, depois de haver recolhido o gado. A lei mandava degolar um animal do gado, cordeiro ou cabrito, de um ano, sem mancha e sem defeito e assá-lo ao fogo (Lopez 2024, p. 139).
A festa da páscoa é a festa dos pães sem fermento que adquiriram um novo sentido entre os pastores que conseguiram uma nova libertação para construir uma nova sociedade onde não havia mais opressão e nem exploração. Essa festa ganhou um novo significado e uma nova origem, pois adquiriu um novo caráter histórico, que tornou uma lembrança ou memorial do fato histórico, “que deu origem a um novo povo e a um novo sistema político, econômico, social e religioso. O sangue do cordeiro adquire um novo significado: proteger o povo contra doença, peste causadas por um sistema opressor” (Storniolo; Balancin 1990, p. 45).
Vivenciando todo o momento pascal o povo de Israel chega à vitória, a libertação. A travessia do mar Vermelho foi a passagem da escravidão para a liberdade, parece até um fato comum onde o escravo foge do território egípcio, com a ajuda de seus conhecimentos sobre a região e dos fenômenos que costumavam acontecer; mas esse fato vai além, ele leva a um profundo significado; acontece a libertação de um grupo que agora poderia se tornar povo, e o maravilhoso é que Deus age, quando esculta o clamor de seu povo vem ao seu encontra e os liberta.
Considerações finais:
Os versículos que foram estudados e pesquisados a respeito da libertação do povo hebreu, narram a chegada de um pequeno grupo estimado em setenta pessoas, os filhos de Jacó e seus familiares, esse grupo se estabelece no Egito com ajuda de José que já se encontrava lá; isso devido ao fato de ele ter sido vendido anteriormente como escravo por seus irmãos, ao chegar no Egito acabou subindo ao trono. Ele ajuda seus irmãos a se estabelecerem nos assentamentos com ajuda do seu exército, e cria leis que favorecem os israelitas. No entanto quando ele morre, sobe ao trono outro Faraó interrompendo seu governo e mudando suas políticas.
As coisas começam a ficar difíceis para o povo hebreu; as leis impostas ao povo se tornam pesadas para que não possam crescer em população, cultura e religiosidade, assim iam aos poucos se esvaindo como povo. Essa realidade só muda para o povo hebreu com o levante de Moisés que escapa à própria política de redução da natalidade imposta por Faraó. Moisés que se cria no ambiente egípcio com seus costumes e fala não se faz indiferente com a opressão de seu povo e por atentar contra a vida de um egípcio, sem ter ainda o apoio de seu povo precisa refulgia-se em Madian, e só depois de quarenta anos é que volta como protagonista, mediador de um plano de Deus que vai libertar os israelenses, aquele pequeno grupo que entra no Egito agora se torna o povo de Israel. Deus atendeu seus clamores e veio ao seu encontro para os libertar.
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