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Imagem: Narcisa FloR |
Vivemos o tempo especial de mudança no mundo. Do mundo em mudança. Tudo acontece de modo muito veloz. Pensado, calculado, programado e controlado por poucas mentes que detém o poder financeiro, tecnológico e "espiritualmente material" sobre as mentes. Assim, as pessoas gozam da liberdade, se satisfazem em todas as opções postas diante de seus olhos, sem perceberem a manipulação e o controle de suas vidas por parte de quem age querendo ser deus.
Esse clima atinge todas as áreas e dimensões da vida, dentre as quais destacamos as seguintes.
a) Relações: reais e virtuais; instantâneas e fluidas;
As relações entre as pessoas quase sempre não contam apenas com o elemento humano face a face. Há a máquina e todo o corpo humano e tecnológico no intermédio das relações. Seja a amizade, o parentesco, a fraternidade religiosa e a relação amorosa, além de outras. Todas são atingidas pela influência das mídias digitais, especialmente pelo celular. São relações reais e virtuais/ digitais ao mesmo tempo.
Essas relações correm o risco de se configurarem como cocha de retalho ou como "frankenstein". Em outras palavras essas relações, ao vivo tem uma bela e sadia aparência. Nos escondidos digitais às vezes são o oposto.
Tanto na realidade quanto na tela, muitas relações são fluidas. Nascem espontânea e rapidamente, e se dissolvem da mesma maneira. Tudo se mantém segundo as necessidades satisfeitas dos envolvidos. Quando não há mais satisfação realizada, findam as relações. Não há nada além para garantir a continuidade.
b) Valores (paradigmas): os mais fortes; mais ágeis; mais esperto; vitória; sucesso; conquistas;
O que o cristianismo propõe como valores, são princípios orientadores das condutas, das práticas e das ideias na existência da pessoa. Todos eles têm como origem e horizonte final, a experiência e a compreensão de Deus enquanto comunidade perfeita. Dentre os quais o primeiro é o amor em todas as suas feições: acolhida, humildade, perdão, simplicidade, resignação, paciência, mansidão, etc. Todos vividos em comunidade e para a construção da vida comum.
Os princípios inspiradores mais difundidos nos tempos atuais quase sempre são configurados de modo contrário aos valores cristãos. Todos têm uma inversão do princípio e do horizonte a ser alcançado. Eis alguns: a força, a rapidez, a esperteza, que ajuda a alcançar a vitória, as conquistas, o sucesso. A meta é ser ou tornar-se o mais forte, o mais ágil, o mais esperto. Busca-se alcançar de modo imediato o lucro, o poder e as oportunidades mais satisfatórias para o prazer e a realização individual.
c) Sequelas humanas: do prazer; do poder; da beleza; do convencimento; do engajamento sem causa; da opinião sem reflexão; do veredicto sem análise.
Esse movimento deixa sequelas fortes e impactantes em todas as vidas especialmente nas pessoas. A busca pelo instantâneo (imediatismo) consome investimentos de tempo, dinheiro, energia e saúde no que oferece o prazer mais intenso possível, no que pode soar como expressão de maior poder e no que forja a melhor aparência, seja física ou digital.
Além desses elementos imediatos, outra sequela muito séria é a imposição das opiniões. Sem fundamento, qualquer opinião pode tornar-se fogo que desperta e alimenta o calor das discussões até atingir o nível da violência. A falta de atenção para fundamentar as opiniões leva as pessoas a tornarem-se refém de quem as produz e/ou divulga. Sem reflexão assumem-se as ideias, conceitos e preconceitos como causa de vida (causa sem causa), muitas vezes julgando e condenando as outras pessoas sem analisar as situações e seus contextos.
Religião e espiritualidade
a) Individualizada: emotiva; de "cura e libertação"; combatente ao mal.
b) Espiritualista: a-histórica; tecnicamente eficiente; empresarialmente organizada; tecnologicamente atualizada
A religião também é afetada pelos elementos que constituem esse mundo em mudança (mudança de mundo). Ela deixa de ser respeitada como constituinte da instituição religiosa e passa a ser usada como direito individual. Nesse caso há um caldeirão de elementos apresentados todos juntos: a fé no transcendente (Deus, deuses, energia, cosmos...) e no imanente (no ser humano, na mente humana, no pensamento positivo, na sorte...). Essa compreensão considera a religião como uma dimensão da vida do indivíduo, a qual não cria laços de pertencimento permanente a uma comunidade igreja.
Por isso muitas pessoas batizadas descobrem a emoção religiosa em outra igreja e deixam a igreja católica, "convertendo-se para si mesmo", pensando ter encontrado Jesus. Isto é, assumem uma experiência forte emocionalmente e fraca na vivência prática dos valores cristãos. Trata-se de um espiritualismo vestido de espiritualidade cristã.
Esse modo de viver navega entre o mundo real sem se dar conta dele. As estruturas sociais injustas não são atingidas, o jogo dominante do poder não é percebido, mas o mal é combatido através do combate às pessoas rotuladas como pessoas do mal.
Essa situação pode ser descrita como uma religião sem igreja, ou uma igreja sem Deus, ou um Deus sem Jesus, um Jesus sem Cruz, uma cruz sem o peso do compromisso libertador e histórico que ela significa para nós.
Na própria Igreja, esse tipo de vivência nos ronda com o perigo de promovermos uma espiritualidade desligada da história (a-histórica), buscando uma eficiência técnica, uma organização empresarial, voltada para os relatórios quantitativos e as atualizações tecnológicas. Quando isso ocorre, os eventos, os móveis e imóveis são os melhores; o perigo é o esfriamento das relações entre as pessoas e a perda do sentido da fé.
Nossa pastoralidade
a) Quem pensamos Ser?
b) Que pastoralidade realizamos?
c) Da pastoral de outrora, o que queremos retomar?
d) Que pastoralidade queremos alcançar?
Em meio a esses traços da realidade, se desenvolve nossa vivência evangelizadora. A missão da igreja não é somente evangelizar. De fato, a missão é antes de tudo a obra salvadora de Deus. Ele quer salvar a todos. A Igreja, que somos nós, participa desse projeto de salvação. Evangelizar é um modo de compreensão de nosso ser missionário. Em nossa caminhada eclesial, aderimos à evangelização por meio das PASTORAIS.
O que pensamos sobre nossa pastoralidade? Somos realmente uma igreja paroquial de pastoral? Conseguimos nos pastorear e cuidar bem do rebanho do Senhor do qual fazemos parte? E como lidamos com quem está fora do rebanho?
Olhando nossa caminhada pastoral nesses TANTOS anos de igreja (paroquial, diocesana...) daquilo que vivemos antes, temos saudade e/ou esperança do quê? As experiências vivenciadas 'me tornaram' uma pessoa melhor, mais próxima das feições de Jesus: amável, acolhedor, compreensivo, firme-justo-misericordioso?
Eis o resumo das muitas perguntas:
- Sobre o passado - do que já vivenciamos na vida pastoral do que temos saudade? O que nos alimenta a esperança?
- Sobre o presente - como descrevemos nossa pastoralidade atual? Estamos pastoreando como missionários, ou como gerentes, vivendo o evangelho ou apenas realizando tarefas?
- Sobre o futuro - que luzes, possibilidades, opções ou novidades conseguimos visualizar para o futuro de nossa paróquia?
Não estamos isentos das marcas do mundo em que vivemos. Esse texto pretende chamar nossa atenção e indicar caminhos para nossa avaliação 2025 e planejamento pastoral 2026.
Beruri, 17de agosto de 2025
Por: Padre Gordiano
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